Kingsman: The Secret Service – Quebrando a rotina com uma boa surpresa

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Nada como uma breve interrupção na programação normal que é o nosso cotidiano. No caso, um cineminha no meio da semana, aquela semana que você deseja nunca ter existido, aquela que exauriu todas as suas forças e sanidade, aquela que parece não ter fim. E nada melhor que um filme bem divertido nessa situação. Divertido e bom.

Kingsman: The Secret Service (Kingsman: Serviço Secreto, 2014) é isso: divertido, bom e um dos melhores filmes de ação a que assiti nos últimos tempos.

Se havia uma chance de Colin Firth ficar ainda mais cool, era essa. Como o agente Harry Hart, Colin mostra outro aspecto de sua já comprovada versatilidade, dispensando dublês em muitas cenas de luta ora violentas, ora elegantes como seu figurino, ora as duas coisas. Nessas sequências, aliás, perdoamos o uso um pouco excessivo de câmeras tremidas pelos planos-sequência, que mostram que o excesso de cortes não é necessário para dar dinamismo às cenas. O jeitão de filmar lembra Kick-Ass (Kick-Ass: Quebrando Tudo, 2010), do mesmo diretor, Matthew Vaughn. Se o estilo dele ainda não está completamente consolidado, é certamente possível avistar características bem próprias que podem um dia transformá-lo em um diretor muito autoral. Quem sabe?

No roteiro, baseado nos quadrinhos The Secret Service, de Mark Millar e Dave Gibbons, uma organização supersecreta opera mundial e independentemente, e tem como base uma alfaiataria de fachada, a Kingsman. Quando é necessária uma substituição de um dos agentes, Harry recruta o filho de um ex-agente, morto em combate ao salvar sua vida e a de outros agentes, Eggsy, interpretado pelo inexperiente e surpreendente Taron Egerton, que deverá passar por uma série de provas ao lado de outros recrutas antes de se tornar um agente Kingsman. Enquanto isso, o vilão megalomaníaco Valentine, interpretado hilariamente por Samuel L. Jackson que, ao contrário de Colin Firth, despiu-se, acertadamente, de toda a sua coolness para esse papel, põe em prática seu plano maquiavélico para salvar, a altíssimas custas, o planeta.

Kingsman 3

Exercendo óbvia homenagem aos filmes de espionagem, em especial os 007, mas com elementos cômicos surreais, muitas referências ao cinema e metalinguagem, o filme exala charme, apoiado por boa trilha sonora, bom ritmo, ao mesclar com equilíbrio a história principal com a secundária e as já citadas bem dirigidas cenas de lutas, bem como as outras cenas de ação (preste atenção numa envolvendo um carro em marcha ré, numa de parkour e na violentíssima cena da igreja). Apesar da clara homenagem, porém, o filme não deixa de surpreender em alguns momentos, com soluções inesperadas e chocantes, até.

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O elenco de apoio estelar (Michael Cane, Mark Strong), ao lado de Colin Firth, Samuel L. Jackson e Taron Egerton, são o outro grande trunfo do filme. Estão todos bem, com destaque para o novato Taron, que segura a onda com categoria e tem uma carreira promissora pela frente, dadas as oportunidades certas. Valentine, o vilão de Samuel, cansa um pouco. Se num primeiro momento sua língua presa é motivo de gargalhadas, lá pelo meio do filme ela parece forçada e o personagem, a princípio engraçado, torna-se chato, mas não por demérito de Samuel, que está bem, sim. Colin Firth, por sua vez, me parece uma nova espécie de Liam Neeson. Assim como Liam passou a figurar entre os grandes nomes dos thrillers, cheio de confiança e poder de fogo irlandês, Colin pode ser o novo nome dos filmes de ação, com suas coreografias elaboradas e elegância inglesa.

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Os espectadores eram poucos, afinal era uma sessão noturna num dia de semana, mas atrapalharam. Será muito azar da minha parte ou esse é um problema generalizado? As pessoas parecem não se importar em conversar, chutar poltronas e abrir embalagens de comida barulhentas, que depois impreterivelmente vão para o chão apesar das lixeiras à disposição. Mas o que mais me incomodou foram as luzes acenderem antes da cena final do filme. O Cinemark nunca foi exemplo de boas projeções, e eu confesso que frequento suas salas pela possibilidade de pagar meia-entrada, porque os valores das inteiras são simplesmente impraticáveis. Essa foi bem feita, até o momento em que as luzes acenderam, antes da hora. Apesar disso, no entanto, nada estragou essa noite fora da rotina. O filme é realmente bom, daqueles que dão gosto de assistir e que te fazem sorrir por uns bons minutos depois que você saiu da sala. Já quero repeteco.

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