Há umas semanas atrás, pela primeira vez em muito tempo, tivemos pique de sair na sexta à noite. Era para encontrar amigos da época do colégio, que passei a ver com mais frequência nos últimos tempos, e escolhi um boteco perto de casa e perto do metrô, porque a galera vem de todos os cantos da cidade. Tenho feito esse exercício de redescobrir a cidade e descobrir mais o bairro e os arredores, e tem sido maravilhoso. Há uns meses, eu cogitava seriamente mudar de país, por vários motivos, um deles sendo o fato de não suportar mais morar em São Paulo, mas não me ver morando em nenhuma outra cidade brasileira. Eu almejava algo maior, mais organizado e mais civilizado. E por outros tantos motivos, passei a olhar mais para a cidade onde nasci e me criei, e que oferece tantas possibilidades que ficam em segundo plano quando a única coisa que conseguimos enxergar é o trânsito caótico, a eterna ameaça da violência urbana e a pressa.
Esse boteco a que fomos na noite dessa sexta-feira, O Batidão, fica na rua Domingos de Morais, 1527, em frente ao metrô Vila Mariana, pertinho de casa. Apesar de termos passado por ele inúmeras vezes, foi a nossa primeira vez no bar, cujas mesas ocupam uma espaçosa ilha e onde não há espaço para pretensão alguma. Lá bebe-se cerveja de garrafa bem gelada e comem-se petiscos de boteco corretos (pedi torresmo e provolone à milanesa). O preço é bastante razoável e o atendimento, bom. É um ótimo lugar para passar horas bebendo com os amigos e não se preocupar com filas, garçons mal humorados e contas astronômicas. E é do lado de casa.
A conversa fluiu como poucas vezes acontece na vida. Há momentos em que tudo parece convergir para um mesmo ponto, ou para pontos vizinhos, e as ideias são bem recepcionadas, as risadas se auto-multiplicam e a esperança e alegria de viver são restauradas. Daqui a alguns anos, a minha vida terá tomado um rumo, se tudo der certo, e eu vou lembrar dessa noite como a ponto inicial. Sabe aquele momento nos filmes de viagem no tempo em que se deve retornar para o passado e mudar uma única coisa que deu origem ao presente que se conhece? Essa noite terá sido esse momento, só que ao contrário. Se tudo der certo.
No sábado, acordamos cedo, passeamos com a Nina no Parque da Aclimação, fizemos feira e comemos pastel. As altas temperaturas me permitiram o pastel mas pediram uma substituição justa: caldo de cana por água de coco.
Passamos a tarde (e a noite, e um pedacinho da madrugada) na casa de um casal de amigos que teve o primeiro filho recentemente. Fazia quase dois anos que não nos víamos, apesar de o convívio nas redes sociais dizer o contrário. E essa história de ter amigo com filho é daquelas coisas que te faz sentir-se adulto de verdade. E para combinar com esse clima de adultice, fizemos coisas de gente grande, até a hora que o bebê mais sorridente do universo foi dormir. Depois de conversas profundas, caminhada para tomar sorvete no dia mais quente dos últimos tempos e brincadeiras com o menino-sorriso-lindo, decidimos ser menos adultos e jogamos um joguinho de tabuleiro dos mais legais que joguei ultimamente: Dungeon Petz.
Eu não manjo de board game, apesar de já ter falado sobre alguns por aqui, mas para quem manja, esse jogo é um euro, o que significa que ele é bastante estratégico e depende muito pouco de sorte. Apesar da dificuldade, o jogo flui bem e a temática o torna mais, digamos, fofo. Nele, os jogadores são compradores e criadores de animais, e precisam fazer os investimentos certos para que eles cresçam saudáveis e felizes e possam ser vendidos por bons preços. É mais complicado do que parece, mas tão divertido quanto soa! As ilustrações são lindas e esteticamente, de forma geral, o jogo acerta. Depois teve a famigerada pizza, para coroar um dia diferente, divertido e muito quente.
No domingo, eu tinha planejado visitar meu pai. Tínhamos combinado fazer um churrasco e eu, que não sou boba, ia aproveitar a piscina. Ele cancelou de última hora, quando já estávamos fazendo as compras no mercado, porque tinha um compromisso do qual havia esquecido. Ele se sentiu super culpado, e liberou a casa para eu fazer churrasco com quem quisesse. E de quebra deixou um monte de coisas prontas em cima da mesa: salada, arroz e palitos de legumes para comer com molhinhos. Fiquei chateada, mas ele se redimiu com os cuidados que teve. Quando cheguei, ele havia deixado a churrasqueira semi-pronta e bloqueado os portões porque a Nina é pequena o suficiente para passar por eles e ir para a rua. Fora que não foi particularmente difícil conseguir companhia para essa tarde ensolarada de domingo, à beira da piscina, regada a cerveja e carne. A aderência à proposta feita no whatsapp foi um sucesso.
Eu e o Marcelo pilotamos a churrasqueira, e como não temos familiaridade nenhuma com ela, saiu tudo ótimo, mas demorou que só. Ainda bem que tinha pão, vinagrete e bastante salada, que todos, incentivados pelo calor e pela fome, comeram até acabar.
Teve violão, tocado pela pessoa que tem o maior e melhor repertório que eu conheço, teve cantoria nostálgica, teve muita bebida e comida, teve mergulho na piscina gelada e até jogo de cartas (e de tabuleiro), quando a noite já chegava e a churrasqueira reacendia para o segundo round. O joguinho de cartas chama-se Bang! e foi lançado no Brasil pela Grow. É um party game que vale o investimento, por ser simples, divertido, rápido e barato. E, como um baralho comum, não ocupa espaço nenhum. Nesse jogo, cada jogador recebe uma designação, como num jogo de Detetive, aquele onde se pisca para matar, sabem? A mecânica de Bang!, aliás, lembra muito a de Detetive (não confunda com o jogo de tabuleiro), o que faz com que as pessoas que não conhecem o jogo entendam rapidamente como ele funciona. O jogo de tabuleiro que jogamos foi o Concept, que foi sucesso de público.
E já passava das onze quando voltávamos para casa, os três, cansados e felizes.